A História

A ESTRADA PARA UM NOVO HORIZONTE

Apesar de ter nascido e sido
criado em Paramirim, na Bahia, a cidade de Novo Horizonte foi onde seu Edgar
Abreu Magalhães escolheu morar, por volta de 1955, pra iniciar uma vida de
muito trabalho, aos 20 anos. E foi onde tudo deu certo em sua intensa
trajetória. “Foi lá que comecei uma vida bem começada, no garimpo,
viajando pro Rio de Janeiro pra vender cristais, depois trabalhando como dentista
prático, extraindo dentes e fazendo dentaduras”, conta Seu Edgar, muito
lúcido no alto dos seus 88 anos.

Foi lá também que começou sua aproximação com o universo dos transportes, primeiro com carro de boi,transportando mercadorias sobre duas rodas, depois com transporte de materiais de construção e outros produtos estocados em caminhões, até passar ao pau de arara, um típico transporte de passageiros improvisado sobre a carroceria de caminhões, com tábuas que servem de assento, uma lona como cobertura e que, na época, era utilizado para transportar pessoas da região Nordeste para o Sudeste, especialmente com destino a São Paulo. Seu Edgar fazia um trajeto que, normalmente, saia de Novo Horizonte até Monte Azul,em Minas Gerais, e, de lá, até a capital paulista, em viagens que duravam até oito dias. “Foi a necessidade do caminho”, explica.”Naquela época, se você queria ir pra Brumado ou se você queria ir pra outro estado, era em cima de um caminhão e em estradas sem nenhum asfalto”.

Só depois de muito realizar o trajeto no interior das cidades com caminhões (ele chegou a possuir uma frota de seis pesados veículos, uma raridade na época), seu Edgar adentrou no mercado dos ônibus, uma continuação quase que natural do transporte de passageiros. “Foi um acontecimento levando a outro, sempre progredindo”, relembra ele. Não à tôa, o nome escolhido para sua empresa faz homenagem à cidade que o acolheu e também representava, ali, a perspectiva de uma vida nova, um novo futuro, já que, em suas recordações,ele diz que o melhor ramo de atividade que ele vislumbrou para ter uma renda foi o de transporte de pessoas. Nesta época, no final dos anos 50,seu Edgar foi, por exemplo, um dos pioneiros a transportar pessoas e mercadorias pela ainda rudimentar rodovia Rio-Bahia. 

Em Monte Azul ele descobriu pessoas que construíam, sobre a carroceria dos caminhões, os primeiros formatos de ônibus, na época conhecidos como jardineiras. O capô destes transporte será similar ao do caminhão, mas ao fundo eram instalados assentos um pouco mais confortáveis e coberturas mais estruturadas. Hoje é um veículo quase extinto, no entanto, à época, bastante utilizado para realizar trajetos de média e longa distância das localidades do interior às grandes cidades, já que era um veículo resistente às estradas de terra.

A CADA ÉPOCA, SUAS TRANSFORMAÇÕES

Seu Edgar, entretanto, deu um salto no avanço dos transportes. Ele preferiu apostar em autocarros ainda mais próximos da ideia dos ônibus como conhecemos. Vendeu parte da frota de caminhões, transformou outra parte em ônibus, mas também investiu em novos modelos em que cabiam até 60 pessoas, vislumbrando, inclusive, as transformações que aconteciam na infraestrutura das estradas brasileiras.”Eu sempre fui melhorando os transportes de acordo às mudanças da época”, confirma. 

Em todo esse período, seu Edgar já havia passado por diversas mudanças de sedes com sua empresa que começava ase instalar como transporte intermunicipal: Novo Horizonte, Ibiajara, Santa Maria do Ouro, Caetité, Brumado, Vitória da Conquista e São Paulo, acompanhando um trajeto muito próprio dos nordestinos no fluxo dos idos anos 60. Sua frota de ônibus, que inicialmente contava em dois veículos,passou para quatro, depois para seis, dez, vinte, até ultrapassar a marca de cem ônibus. Paralelo a estas aquisições, a Novo Horizonte também adquiriu cerca de dez empresas já instaladas em algumas regiões, para aproveitar a estrutura estabelecida e ampliá-la. Já entre as empresas concorrentes,muitas delas surgidas num mercado desbravado pela Novo Horizonte neste período,poucas permanecem ou têm história tão pujante quanto à viação criada por seu Edgar.

A capilaridade da empresa,traço desse olhar visionário do longevo empresário, fez com que ela ampliasse o foco no transporte intermunicipal para alcançar o caráter das viagens interestaduais. Antes disso, porém, uma conquista curiosa: a empresa, que já estava estabelecida em viagens do interior da Bahia para São Paulo no início da trajetória, nunca havia firmado uma linha direta para Salvador. Com toda a estrutura organizacional montada, com equipes de gestão, motoristas, agências,vendedores, pontos de venda, local fixo, e em franca expansão nos anos 70, a Novo Horizonte alcançou a capital baiana. “Meu sonho era ir pra Salvador.Então, pelo Detran, na época, consegui, finalmente, uma linha do sertão para o litoral”, lembrou.

ALÉM DO HORIZONTE

Paralelo aos avanços regionais,a Novo Horizonte passou a investir no conforto e bem-estar dos passageiros,adquirindo ou trocando sua frota para ônibus mais confortáveis, espaçosos,arejados, com janelas mais amplas, bagageiros mais seguros e reservados, estofados mais bem acolchoados, poltronas reclináveis, carrocerias feitas com tecnologias mais avançadas, no que, nos anos 80, os passageiros podiam escolher entre viajar numa opção Executiva ou no novíssimo ônibus Leito.

No final dos anos 80, seu Edgar ganhou um apoio inestimável aos novos tempos: o filho Isac Azevedo Magalhães,que voltava de sua formação universitária em Brasília, passou a fazer parte do chamado Grupo Abreu Magalhães, assumindo funções administrativas. “Eu disse a ele: eu te criei durante parte da vida, agora você é quem tem que me criar”,conta, sorrindo. A esta altura, na metade da década de 90 e mantendo-se como efetiva nas transformações do transporte rodoviário de pessoas na Bahia -fazendo, inclusive, parcerias com empresas de renome como a Petrobras -, a Novo Horizonte (e suas associadas) já possuía linhas que ligavam as cidades do interior a algumas das principais capitais do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Goiânia, Cuiabá, Fortaleza e Palmas, e sua frota já atingia cerca de 500 ônibus.

A Viação Novo Horizonte, com seus característicos ônibus nas cores azul e amarelo-creme, chegou aos anos 2000 como uma das maiores empresas de transportes rodoviários do Brasil, com mais de 2.200 funcionários, cerca de 800 ônibus e, só na Bahia, cerca de 130 linhas estabelecidas, além de investir em outros serviços, como o de fretamento.

Hoje, seu Edgar Abreu Magalhães avalia a sua vida como uma importante travessia numa estrada cheia de passagens inesquecíveis. “Cada etapa da minha vida foi fundamental. Da época que eu viajava em carro de boi, que trabalhei no garimpo, passando pelas noites em que dormi embaixo de caminhão no meio da mata, até chegar aos momentos atuais,enfrentando também períodos de crise, sempre estive firme, com apoio total da minha esposa, com quem casei aos 36 anos, e da minha família”, diz, com os olhos vidrados na janela da memória. “O melhor tempo que passei na minha vida,uma vida longa, sempre foi trabalhando e trabalhei pra ser feliz. Não foi pra ir ganhar dinheiro não. Porque a felicidade de alguém, na verdade, é viver bem”.

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